A educação pela greve
Gilcênio Vieira Souza
Apesar de ser um direito constitucional, a greve ainda é vista em nosso país como algo imoral. Os grevistas são geralmente retratados como pessoas desalmadas, que não se importam com aqueles que deles dependem. E se a greve for na educação, nem se fala: os professores são tratados como criminosos, que não ligam para os alunos, para o ano letivo, etc etc.
Na verdade, a greve faz parte do direito democrático de protestar contra determinada situação e exigir mudanças. Trata-se de um recurso usado pela classe trabalhadora para se opor à exploração ou a falta de respeito de que é vítima, por parte dos patrões ou do Estado. Como disse Frei Beto: “Ricos, quando fazem pressão, estendem à mão ao telefone e são ouvidos pelas autoridades e pela mídia. Já os pobres não têm alternativa senão a manifestação pública, que deveria ser por todos reconhecida como direito intrínseco ao grande sonho brasileiro: a democracia participativa”.
Vive-se um momento histórico em que se questiona a educação tradicional, aquela em que o professor ordena – “copie” – e não aceita transgressões à sua autoridade. Atitudes como essa desrespeitam o aluno e seus saberes e inteligências. Por outro lado, fala-se muito em educar para a vida, educar para a cidadania. Porém, muitos professores ainda se deixam cair nas armadilhas do sistema escolar e suas pressões por notas e resultados, que invalidam todo o discurso em prol da cidadania.
Uma greve de professores é um ato educativo. Quando educadores deixam de dar aula para fazer greve, eles não estão se omitindo do seu trabalho. Pelo contrário: estão defendendo condições dignas, para que o trabalho seja feito com motivação e prazer. Mais do que isso: estão mostrando aos seus alunos que a educação não acontece só em sala de aula (aliás, às vezes, a sala de aula é um disfarce para que se imagine que a educação esteja acontecendo). Se não mostrarmos aos alunos que eles podem e devem intervir na realidade, procurando torná-la mais digna à existência humana, para que serve estarmos todo dia na sala de aula?
Mais do que meras palavras, com o exemplo da greve os educadores estão dizendo aos alunos que ser cidadão é exigir respeito e melhores condições de vida – esperando assim que das carteiras escolares não saiam seres cabisbaixos, mas homens e mulheres que tenham a coragem de exercer sua liberdade de pensamento e de ação.
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